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Entre uma velha cigana e uma menina existe a ternura de
uma mulher que chega aos 70 anos, no próximo dia 5,
resistindo a todo tipo de investida da vida com dignidade.
“Viver é um ato de coragem”, filosofa Wanderléa, que faz
duas apresentações nesta quinta-feira, no Imperator, no
Méier. Ponto a ponto, a cantora chega a cinco décadas de
carreira, renovando o estoque de energia e cheia de
projetos.
Relação com o tempo
“Um numerólogo me disse que sou a mistura de uma cigana
centenária com uma eterna teenager (adolescente, em
inglês). No palco, sou uma adolescente. Nos meus
momentos de introspecção, sou uma senhora.
O trabalho me traz vitalidade”.
Envelhecer
“Por dentro, a gente sempre melhora. Por fora, é inevitável a ação do tempo. Mas me sinto muito bem com meus 70 anos. Gosto das minhas ruguinhas. Não quero ficar uma senhora plastificada. Claro que gostaria de estar fazendo 20 anos. Quando era nova, achava que com 70 estaria em casa fazendo tricô. Hoje, estou no palco em cima das botas (risos)”.
Show no Rio
“Até hoje, a minha ligação com o Rio é intensa. Sei andar na cidade inteira. Em São Paulo, onde eu moro, não faço ideia. O Rio me traz lembranças maravilhosas do início da carreira ao lado de Erasmo e Roberto Carlos”.
Filme e Biografia
“Tenho convite para fazer um filme, mas estou segurando para depois do lançamento da minha biografia. Há mais de 15 anos eu escrevo como forma de terapia. Não tinha tempo para destilar as minhas experiências de vida. Escrevi capítulos sobre a vinda da minha família de Minas para o Rio, minha infância, a morte prematura e trágica da minha irmã (Wanderlene, vítima de bala perdida), a perda do meu primeiro filho (Leonardo morreu afogado, aos 2 anos)”.
Musical e CD novo
“Estou finalizando um disco com canções da Sueli Costa, que considero como a maior compositora brasileira. Há também um musical sobre a Jovem Guarda, mas ainda estou pensando porque me tomaria tempo. A ideia é que eu faça uma participação”.
Juventude politizada
“Com a internet, a garotada está mais politizada. Na minha época, era coisa de adulto. As nossas reivindicações eram familiares. A primeira ditadura era dentro de casa. Mas os puristas queriam que tivéssemos um discurso político partidário. Hoje, só peço a Deus que o Brasil passe por uma limpeza. Fazer política é uma missão de alma, não oportunismo”.
Feminismo
“Eu me acho feminista na medida em que fui importante para as brasileiras através das minhas roupas e pela minha música. A decisão de continuar casada (com seu produtor e guitarrista, Lalo Califórnia), mas morando em casas separadas, também é um ato de feminismo. O que nos une é a música e a família (eles têm duas filhas: Yasmim e Jadde)”.
Perdas
“A gente fica assustado com a vulnerabilidade do ser humano, mas a maturidade faz a gente compreender a vida melhor. Viver é um ato de coragem”.
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